Igreja Cristã Primitiva Imagem de Cabeçalho Rotativa

Obra de Colonização Agrícola no Município de Palmeira

 

Interessantes declarações ao “Correio do Povo” do seu realizador, Professor Julio Ugarte (*)

Por notícias enviadas pelo nosso correspondente em Palmeira e publicadas pelo “Correio do Povo”, os nossos leitores tomaram conhecimento dos trabalhos de colonização que o Professor Julio Ugarte y Ugarte está realizando naquela localidade.

Agora, aproveitando-se da visita que nos fizera sua senhoria para agradecer as atenções desta folha, ampliamos as informações com as declarações que passamos a reproduzir:

“Os trabalhos de colonização em Palmeira tiveram início a 10 de agosto do ano próximo passado, quando chegou àquele município a primeira turma de 22 homens, levando a maquinaria completa para a fabricação de telhas e tijolos, a ser estabelecida ali. Atualmente, temos oitenta famílias de agricultores e técnicos no novo distrito de Palmitinhos, na região do rio Guarita, em Palmeira, e no lado oposto, na outra margem desse rio, que corresponde ao município de Três Passos, perfazendo um total superior a quinhentas almas. A apenas uma distância de doze (12) quilômetros, se acham situadas as instalações da grande usina hidrelétrica que abastecerá de força e luz vários municípios, incrementando a fundação de novas indústrias nessas terras ubérrimas, como declarou o governador do Estado, sr. Valter Jobim, numa entrevista ao Correio do Povo, faz pouco tempo.

Essas famílias foram transladadas de Porto Alegre – onde nasceu a iniciativa da comunidade que mereceu completa aprovação da diretoria da Igreja Cristã que presido – como também de outras localidades, como sejam Monte Alegre, Vila Rio Branco, Ramiz Galvão, Palmas, Irapuá, Cachoeira e, principalmente, João Rodrigues, de onde já saíram centenas de pessoas.

Presentemente, estamos em pleno período de atividade, tendo dado início à plantação de quarenta sacos de sementes de trigo. Temos também terras prontas para o cultivo de feijão, milho, soja, batata doce, mandioca, cana, etc., etc. Em pouco tempo fizemos grandes roças que, dia a dia, vão sendo aumentadas pelo braço duma população sadia e laboriosa. Todos os colonos têm verduras em abundância nos seus quintais, e criação de aves para o consumo. Essas famílias moram em ranchos provisórios e todas elas se encontram felizes, tendo deixado para traz as preocupações que tanto perturbam o habitante citadino, tais como a carestia de vida.

Para facilitar a manutenção de tanta gente, adquirimos a maquinaria para o fabrico de farinhas de trigo e milho, raspa de mandioca e araruta; adquirimos também uma descascadeira de arroz e uma cangiqueira, num total de sessenta e sete mil cruzeiros. Temos já no local uma máquina a vapor de 40 HP, que servirá, também, para movimentar o engenho de serra, encomendado a uma acreditada firma de Ijuí, especializada nesta classe de maquinarias e que será entregue até fins do mês vindouro.

Em princípios do mês de setembro vindouro, terá começo a construção duma vila com cem casas, pois estão chegando outras famílias para completar o número de cem inscritas para povoar aquela zona.

Espero montar o engenho de serra para, imediatamente, começar essa tarefa. Além das casas, principiarei por construir um prédio para Grupo Escolar, com internato, a cargo de professoras experimentadas, das quais quatro estão já na localidade. Referindo-se a esse novo centro de ensino completo primário, resolveu-se dar-se unanimemente o nome do atual Secretário da Agricultura, sr. Balbino de Souza Mascarenhas. Todas as crianças de idade escolar serão internadas. Também será estabelecida uma aula para jovens e adultos, colaborando, desta forma, para a alfabetização do povo gaúcho. Finalmente, serão edificados um templo, um hospital e um clube com biblioteca adaptada ao meio ambiente, com salas de recreio, etc. A nova vila terá iluminação elétrica.

A olaria, situada a cinco quilômetros de Palmeira, está localizada numa área de cinco colônias, oferecidas à Igreja pelo atual 2º Vice-presidente, senhor Aldilau da Silva Machado. Aí moram, 43 famílias, perfazendo um total de mais de cem almas. As moradias, de madeira, serão substituídas por casas modernas de material. A água é de vertente natural, ótima como todas as águas de Palmeira. A iluminação das ruas e das casas é elétrica, pois temos usina própria.

Além dos grandes galpões de material, é o gigantesco forno que mais atrai a atenção dos visitantes, tendo uma capacidade para produzir cem mil tijolos e vinte mil telhas em cada fornada. Uma indústria deste vulto não podia passar inadvertida aos homens que se preocupam com os interesses gerais da coletividade, daí que fomos visitados pelo deputado dr. Luciano Machado e por todas as autoridades de Palmeira, encabeçadas pelo prefeito dr. Pompilio Gomes Sobrinho, diretor geral do Município, dr. Alarico Leite do Amaral, e outras pessoas gradas palmeirenses. Suas opiniões serviram de estímulo, tanto a mim como a todos os colaboradores que labutam nessa fábrica, que será inaugurada oficialmente no decorrer do presente ano; porém, a queima terminada na semana anterior alcançou a sessenta mil tijolos e seis mil telhas, que servirão para o término dessa obra, que servirá, como é público em Palmeira, para o embelezamento da cidade.

Referindo-me à fábrica de cigarros que estabeleceremos nesse município, tenho a informar que já está reservado o terreno, esperando-se tão somente o funcionamento do engenho de serra para, imediatamente, dar começo à construção, pois toda a maquinaria já está em Palmeira. A capacidade de produção será de quinze mil cigarros por hora, produção essa que será aumentada à medida das necessidades e dará trabalho a muita gente da localidade, principalmente moças, que, no presente, não têm em que empregar suas atividades.

O financiamento da comunidade de Palmitinhos é realizado por um grupo de adeptos, sendo a maioria dos colonos gente de precários recursos econômicos; porém, por convênio prévio, todos renunciaram a seus direitos em benefício de todos, daí que todos recebem iguais benefícios, ação esta digna do maior aplauso, numa época em que campeiam o egoísmo e o interesse pessoal. Destarte, a Comunidade proporciona quanto é preciso para a vida de todos os membros que dela fazem parte.

Não podíamos deixar passar esta oportunidade sem nos referirmos aos representantes da Assembleia do Estado, drs. Hermes Pereira de Souza, Luciano Machado, Tarso Dutra, ao prefeito de Palmeira, dr. Pompilio Gomes Sobrinho, ao sr. Alarico Leite do Amaral e outras autoridades de Palmeira, como também, e principalmente, ao secretário da Agricultura, sr. Balbino de Souza Mascarenhas, e ao diretor de Terras e Colonização, sr. Artur Ambrós, cuja colaboração eficaz, seguindo o programa do governo da Nação, de incrementar a agricultura, contribuiu para a realização das obras que deixo expostas.

Finalmente, agradeço com toda a sinceridade as atenções do “Correio do Povo”, que sempre se interessou e amparou todas as obras altruísticas, patrióticas e democráticas, seguindo o roteiro do seu fundador, o inolvidável jornalista Caldas Júnior”.

 

(*) Correio do Povo, 28 de julho de 1948. Nesta matéria há uma foto do professor Julio Ugarte y Ugarte, acompanhado dos srs. João Pedro Coelho Leal e Adilau da Silva Machado. No rodapé da mesma, os seguintes dizeres: “No flagrante que a gravura acima reproduz, fixado, ontem à tarde em nossa redação, aparece o Professor Julio Ugarte, acompanhado dos senhores João Coelho Leal e Aldilau da Silva Machado, em palestra com o redator do Correio do Povo.)

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