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Princípios Fundamentais

O Nascimento de Jesus Cristo (*)

 

O nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo é o acontecimento histórico mais notável do mundo, é a encarnação da palavra de Deus, do “Verbo Divino que se fez carne e habitou entre os homens”, para dar-nos a salvação, ensinando-nos o Caminho a Verdade e a Vida Verdadeira com os quais Ele estava identificado, praticando a Doutrina revelada pelo Pai.

Como estava previsto pelas profecias, todos os detalhes materiais do nascimento do Divino Enviado harmonizam admiravelmente com a Sublime Doutrina que, pela misericórdia de Deus, veio ao mundo por intermédio de Jesus, o Cristo.

Dois fatos de grande transcendência deve celebrar a humanidade cristã: o glorioso nascimento, nos seus dois aspectos, material e espiritual, sendo incomparavelmente superior em grandeza a todos os detalhes materiais, a revelação da Santa Doutrina do Pai.

Se a ciência humana se baseia e princípios gerais, comprovados e demonstráveis, a Ciência Divina, ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo, também, seguindo o mesmo rol que a ciência dos homens, se fundamenta em princípios comprovados e demonstráveis, e, sem comparação, esta última tem a sua base sólida, irrefutável pela sua procedência do Absoluto. Não poderia o Evangelho falar da Ciência de Deus, sem ter esta princípios universais comprovados e demonstráveis, adaptados à inteligência humana; daí se depreende a necessidade de que, seguindo o plano divino, a palavra de Deus viesse ao mundo em forma humana. Se a ciência humana é mutável, a Ciência de Deus é imutável, pela sua origem. Se a ciência humana é temporária, por motivo de que somente nos pode prestar utilidade enquanto que somos habitantes deste mundo, a Divina Ciência do Cristo nos eleva a uma condição superior fazendo-nos verdadeiramente habitantes e viventes do Espírito de Deus, como fica evidenciado com as palavras do Santo Apóstolo Paulo, quando diz: “Nós não vivemos nem nos movemos em nossos corpos; nós vivemos e nos movemos no Espírito.”

Os princípios fundamentais da Ciência de Deus são a Obediência e a Negação; sem estes dois princípios fundamentais não pode existir cristianismo verdadeiro.

Para ser verdadeiros cristãos temos que imitar as práticas espirituais da Obediência e da Negação efetuadas por Nosso Senhor Jesus Cristo e expostas perante a consideração universal, apresentando-se como o modelo vivo para alcançar a unificação com o Espírito de Deus.

Dizíamos antes que a ciência humana se baseia em princípios comprovados e demonstráveis não sendo possível, por carecer de lógica, a admissão de nenhum conhecimento ou descobrimento sem a sua respectiva comprovação, como, por exemplo, sucede com a descoberta da composição da água do famoso físico Lavoisier que comprovou, no laboratório, que a água até então considerada como um corpo simples, era um corpo binário, composto de dois elementos, na proporção de duas partes de hidrogênio e uma de oxigênio (H2O). Dest’arte, poderíamos citar todos os conhecimentos do saber humano. Na ciência para nada intervém a fé, a crença firme senão como auxílio para nos dedicarmos ao estudo de qualquer ramo científico. Como poderíamos nos dedicar ao estudo laborioso e profundo de uma ciência, se de antemão não temos a crença (a fé) na utilidade que nos vai prestar? Mas, fora desta fé ou crença preliminar, a ciência em si jamais se baseou na fé mas sim no conhecimento, já comprovado e demonstrável em qualquer momento, dispondo-se dos meios materiais para esse fim.

A Ciência de Deus tampouco se subtrai a esta norma razoável, daí que, não nos separando deste critério científico, a Ciência de Deus não poderia ser admitida somente pela fé, porque correríamos o risco de sermos enganados por outros ou por nós mesmos, já que os homens em geral são falidos e, portanto, se enganam constantemente, porque os sentidos físicos não estão suficientemente aparelhados para perceber mesmo as verdades físicas, como sucede com os casos de ilusão dos cinco sentidos, da vista, do ouvido, do tato, do gosto e do olfato.

Como poderíamos então aceitar a doutrina da fé, meras hipóteses ou imaginação dos homens, tratando-se de verdades transcendentais, superiores, espirituais, metafísicas? O engano seria mais fácil. Isto está claramente exposto no Evangelho do Cristo, quando o Apóstolo Paulo nos revela o seu critério crístico: “Deixai a doutrina da fé. A fé é uma muleta”. De forma que a fé tem seu valor espiritual certo no estado preliminar do neófito; em câmbio, não é o fundamento da Ciência de Deus porque, identicamente à ciência humana, a Ciência Divina tem seus fundamentos que nós podemos demonstrar, como se vê pelas palavras do Senhor: “Se alguém quiser saber se esta Doutrina é minha ou vem do Pai, faça a Vontade de Deus e assim chegará a saber pela mesma Doutrina que ela não é minha, mas do Pai que me enviou.” Estas palavras do Senhor abrangem vários aspectos, sendo os principais, primeiro dar a entender aos homens materiais que o rodeavam que a Doutrina que Ele pregava não era do homem como podia acreditar-se senão era a Doutrina ensinada pelo Divino Pai e ao mesmo tempo nos dá a conhecer que a Santa Doutrina tem os seus meios de comprovação, previsto o caso apresentável, possível futuro em relação àquele tempo, como sucedeu posteriormente e ocorre agora mesmo, que existem na Terra tantas fés cristãs como religiões ou seitas são pregadas como se as doutrinas fossem muitas, como se as fés fossem muitas, como se existissem muitas verdades, referentes a uma verdade, como se existissem muitos cristos e muitos deuses.

O cientista não admite senão aquilo que tem base científica; o contrário é considerado charlatanismo. Assim também, de igual modo, no nosso tempo contemporâneo, existe muito charlatanismo religioso, temos que dizer com franqueza em homenagem à Verdade.

A Negação após, ou conjuntamente com a Obediência, que é a primeira, é outro fundamento básico da Doutrina do Cristo, o que está exposto nestas palavras: “Quem quiser alcançar a vida eterna, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”

Como fazíamos referência anteriormente, os detalhes materiais do nascimento de Jesus resultam inferiores à sublime grandeza de sua Doutrina de levar-nos a sentar-nos com Ele no Trono do Pai, em conformidade com a sua promessa constante no Apocalipse de S. João: “Ao vencedor fá-lo-ei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e assentei-me com meu Pai no seu Trono.”

Se em anteriores oportunidades escrevi algo sobre a Obediência, a sujeição à Vontade de Deus, realizada por Cristo e seus Apóstolos e discípulos, os quais comprovaram a Verdade da Sublime Doutrina pregada por Ele como, identicamente, esta mesma comprovação foi efetuada pelos primitivos cristãos, hoje temos de esclarecer alguns pontos relativos à Negação do crente cristão.

Se nós obedecemos a Deus, ou seja, à Sua Vontade dentro dos Santos Mandamentos e Estatutos toda a vez que a Santa Doutrina nos ensina que a Obediência a Deus não é para a libertinagem, porque, seguindo esse caminho errôneo, nos esclarece São Paulo, faríamos Deus autor de todos os nossos crimes e delitos. Em concordância com os ensinamentos do Apóstolo dos gentios, referidos nas suas epístolas: “Cada qual se identifica com aquele a quem obedece.” Consequentemente, obedecendo a Deus, teremos que identificar-nos com Deus.

Se ao mesmo tempo negarmos todos os nossos atos bons, reconhecendo que foram ordenados pelo nosso Divino Pai, assim glorificaríamos a Deus porque Ele é primeiro que nós, Ele é Amor, segundo a definição de São João, Apóstolo: “Deus é amor”. Deus é o que inspirou o amor maternal, o amor filial, em geral, todas as manifestações do amor, inclusive nos animais irracionais; Ele é a força benéfica até para obter a paz internacional. Portanto, toda a manifestação do amor, dentro do bem, não nasce de nós mesmos, vem do Alto: “Nada é deste mundo, tudo vem lá de cima.” (J. Cristo)

Se nós obedecemos e negamos as nossas obras boas, quem é então que realiza esta obediência e esta negação? Não somos nós, é o Espírito do Cristo que vive em nós, que estava latente e que despertou manifestando-se em nossa mente: “Eu não sou eu, mas Cristo que mora em mim”, princípio este que abrange a todos os Apóstolos e a todos os que, com sinceridade de coração, trilharam e trilham o Santo Caminho do Senhor Jesus Cristo.

A Negação abrange não somente a renúncia a favor de Deus, de todas as nossas obras boas, mas também tira a ideia egoística de posse, razão esta pela qual, como um auxílio para alcançar a perfeição da Obediência e da Negação, foram estabelecidas as primeiras igrejas: “Os que tenham fé, vivam em comum. As raposas têm seus covis e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” Pobre, pobre incomparável, o mais pobre de todos os homens, para dar a posse geral de todas as coisas do mundo visível e invisível, ao Pai Universal. Este fato já estava anunciado pela palavra de Jeová no seu profeta: “Quem pobre como o meu servo?”, referindo-se a Nosso Senhor Jesus Cristo, o primeiro servo entre muitos outros servos e irmãos dele.

O Servo Incomparável enxergava Deus em todos os atos humanos, ensinava a predestinação sem a qual não era possível ser realizável e comprovável a profecia como vemos na explicação de São Paulo a respeito: “Eu estava predestinado para ser Apóstolo desde antes que o mundo fosse.” Enxergamos, pois, claramente, que ele estava predestinado para alcançar tão grande situação espiritual desde antes da criação do Universo.

Teríamos que escrever volumes e mais volumes para comprovar os benefícios que nos trazem as práticas da Obediência e da Negação.

Identificado nesta Doutrina, não tendo recebido ela dos homens nem dos espíritos dos homens, nem saído ela de mim mesmo, darei a conhecer ao público algo da minha consciência invulgar a este respeito da Negação. Não me considero dono em absoluto de nada, nada possuo, sou o mais pobre dos homens; não tenho corpo, não tenho nada material, e mais ainda, no sentido metafísico, careço de inteligência, não tenho memória, não tenho faculdades criadoras da mente, porque de nada destas coisas materiais e espirituais fui criador, pois o eu e todas as coisas existentes nos dois aspectos da criação universal, considero que o único dono, o único que tem a posse verdadeira, o único Senhor dos Céus e da Terra é Deus.

Nada adiantamos com festas pomposas, com grandes regozijos e externos louvores neste dia glorioso para o mundo, se nos lembramos unicamente de rememorar os detalhes históricos referentes ao nascimento de Jesus, pois, assim, fazemos inútil o seu nascimento, o seu sacrifício e a sua morte na cruz, esquecendo de praticar a sua sapientíssima Doutrina de Salvação do mundo.

Algo mais ainda, em concordância com o relato bíblico: Nosso Senhor Jesus Cristo foi ordenado Eterno Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, grande sacerdote contemporâneo de Abraão, a quem Jeová, não tendo outra coisa maior pela qual jurar, jurou por si mesmo, de que entre a sua descendência viria ao mundo o Salvador dos homens; porém Abraão pagou dízimo a tão grande sacerdote, do qual o Apóstolo Paulo escreveu, dando uma ligeira ideia da grande elevação espiritual de Melquisedeque, do qual nos disse: “Sem ascendência nem descendência, sem princípio nem fim de dias, foi feito Sacerdote Eterno.” Identicamente, Nosso Senhor Jesus Cristo não se considerava filho da carne, não reconhecia parentes como está comprovado com as Suas palavras: “Quem são minha mãe e meus irmãos? Aqueles que fazem a Vontade de Deus, esses são minha mãe, meu irmão e minha irmã.”

Este mesmo é o critério do Espírito Imortal que vive em mim, e que, naturalmente, desejo que todos os homens, que todos os seres humanos pudessem compreender e praticar, vencendo os critérios materiais, no seu estado de identificação do espírito com o mundo físico.

A Obediência e a Negação do Cristo são as bases fundamentais para nossa entrada no Reino de Deus: “Nem todo o que clama Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas aquele que fizer a Vontade de meu Pai que está nos Céus.”

E essa entrada no Reino dos Céus não é post-mortem; podemos alcançar estando todavia morando neste mundo físico, como o expressam os Apóstolos e os discípulos das primeiras Igrejas, cumprindo-se nelas a promessa do Divino Nazareno, quando disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” Ele é o Espírito Santo, o Paráclito, que seria enviado do Pai, para ensinar-nos todas as coisas, o que fica confirmado com estas palavras: Ele vos ensinará todas as coisas, “Ele vos conduzirá de verdade em verdade, de triunfo em triunfo, de glória em glória, como pelo Senhor o Espírito”.

Se para o Senhor não existe acepção de pessoas, praticando os princípios básicos da Obediência e da Negação pregados pelo Divino Mártir do Calvário, todos poderemos comprovar a veracidade e sublimidade da Santa Doutrina do Pai e aproveitar com toda a sua magnitude tão grande conhecimento, que nos eleva a uma condição jamais imaginada por nós: “Coisas que o olho não viu o ouvido não ouviu, e que jamais subiram ao coração do homem, são as que Deus tem predestinado para aqueles que o amam.”

 

(*) Correio do Povo, 25 de dezembro de 1948, Boletim Informativo 09 e BI-10.

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